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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Banzé(conto de cachorro abandonado)




Pequeno, tímido.

Sem raça definida. Branco, com algumas manchas pretas perdidas pelo corpo.

Não lembra onde nasceu; de quem o colocou nas ruas.

Sabe que cresceu nas calçadas e parques da grande metrópole. Passa o tempo farejando lixeiras, rasgando sacos de lixo. Dá um trabalhão para as donas de casa. Por sorte ainda não fora recolhido pela carrocinha*. Bem que o homem do carrinho de cachorro quente adoraria.


As humilhações e desumanidades eram tantas, que havia tirado da mente a esperança de um dia encontrar um dono.

Pensava:

“A vida em cidade grande é tumultuada e corrida. É difícil encontrar alguém com tempo”.

Tudo na cidade grande é corridos. Os passos são apressados, e os dias mais ainda.

Ninguém percebe que os verdes das matas estão desaparecendo a cada por do sol. A cada amanhecer. As flores do jardim perderam a beleza. Os cantos dos pássaros perderam-se no espaço cheio de fumaça.

Ninguém sorri pra as crianças.


E quando tudo parecia está perdido, aconteceu.

Deitado na grama, sem forças para caminhar.

Com muita fome e sede.

O mundo girando a sua volta feito um redemoinho.

Os barulhos dos passos apressados soavam como se fossem de uma manada de elefantes.

E o insistente chamado que ouvia. Por um instante achou se tratar do dono do cachorro quente querendo transformá-lo em salsicha.









A nuvem branca que estava bloqueando suas vistas,

Dissipou-se.Viu uma jovem senhora. Ela tinha ar de estar falando sério:

- Psiu!

- Psiu cachorrinho.

- Olha o que eu trouxe para você.

- Um suculento almoço.

“Acho que era disto que estou precisando. Como é que ela adivinhou?”

- Quando eu passei ontem aqui, estava com pressa. Mas prometi a mim mesma que hoje eu voltaria. Aqui estou. Trouxe-lhe todo meu almoço. Estava sem fome.

Foi amor a primeira vista.

No outro dia o cachorrinho de rua estava dormindo sobre um felpudo tapete, rodeado e atenções.

Recebeu até um nome:

- Banzé.

O cachorrinho achou engraçado.

Mas logo se acostumou a ele.

Ela também se apresentou:

-Banzé, eu me chamo Iraci. E somos só nos dois agora nesta casa.

- Sua comida e água, estão ali na cozinha.

- Agora vou trabalhar. Comporte-se.

Banzé recebeu um afago na despedida.


Banzé não perdeu tempo. Desfrutou de sua nova liberdade. A liberdade de viver entre quatro paredes.

Subiu no sofá. Correu de um lado pra outro da casa, até cair cansado no seu cantinho de dormir.

Despertou com Iraci a seu lado:

- Oi Banzé!

- Vamos passear na praça?

Banzé balançou a cauda freneticamente. Sim ele queria muito rever as ruas por onde, um dia, seus dias passaram.

A praça estava vazia e convidativa. Iraci havia colocado uma corrente longa no pescoço de Banzé. Este corria sem parar.

Fazia pipi sem parar. Não ficava um poste sem ser batizado.

Correu atrás das pombinhas. Até apostaram uma corrida. O último a chegar ao pé de goiabeira era um bobão. As pombinhas ganharam.

Olha lá o casal de cachorro de raças. Eles eram mesmos incorrigíveis nas suas avaliações:

- Olhe quem está aqui. O vira-lata com uma dona!

- Uh! Adotaram o pulguento.

Banzé não deu a mínima para os comentários. Eles estavam era com inveja da sua corrente que era mais longa. Ainda bem que Iraci já estava voltando para casa.

Algum tempo depois.

Banzé não percebia que este tempo passado ao lado de Iraci, eram exatos três anos.

Iraci e Banzé.

Ele tinha um carinho muito especial por ela.

Fazia mil peripécias para agradá-la.

Latia varias vezes seguidas.

Pulava e rodopiava querendo alcançar a cauda.

A vida de Banzé transformou-se em festa permanente.

Era uma manhã de domingo.

As ruas estavam aparentemente desertas.

Pássaros saltitando nos muros de tijolos envelhidos.

Cantando nos telhados desbotados pelo tempo, nos galhos de árvores que avançam nos anos, devoram calçadas, escondem o fios.

Banzé e Iraci preparavam-se para mais um passeio matinal.

Neste dia Iraci resolve:

- De hoje em diante voce não vai mais usar esta corrente no seu pescoço para passera na praça. Voce terá o direto e de ir vir. Livre, você é um cãozinho livre Banzé.

Como qualquer cachorro que se preze, Banzé saltou de alegria, ao ver seu pescoço sem a corrente. Coçava as orelhas, a barriga. De repente surgia coceira no corpo inteiro.

Banzé correu para ficar ao lado do portão. A seu ver, Iraci não tardaria em abrí-lo.

Aconteceu tudo muito rápido.

Iraci abre o Portão.

Banzé não sentindo mais a corrente lhe prendendo, corre para a calçada.

Sem no entanto olhar para os dois lados antes de atravessar, atravessa.

Infelizmente ele atravessa na hora errada e no lugar errado.

Quando ele alcançou a metade da rua, sentiu o impacto mortal. Ouviu vindoa calçada os gritos de Iraci, lá parada:

- Meu Banzézinho!

O carro ledvou-o prezo ao parachoques.

Foi parar no farol á frente. Neste mesmo ponto Banzé desprendeu-se do seu atropelador.

Lá ficando, inerte na pista dura e fria.

Iraci segurou Banzé nos braços.

- Banzé ainda vive!

Era um verdadeiro milagre. Banzé estava vivo.

Iraci entrou no primeiro veterinario que encontrou. Banzé estava muito ferido, mais ainda estava vivo, e era isto que lhe interessava.

Depois de examinar a vítima, o veterinário não teve dúvida ao diagnosticar:

- Não podemos fazer mais nada por seu animal Sra. O melhor a fazer é sacrificá-lo. Vai estar fazendo um grande favor a ele.

Iraci que até então estava confiante na figura do veterinário que se mostrava gentil, muito bem apresentável, respira fundo, e responde-lhe:

- O que o doutor esta dizendo não tem o menor sentido. Está querendo matar o meu cachorro ao invés de tentar salvá-lo?

- Acalme-se sra.

- Seu cachorro está condenado. Em outras palavras, nunca mais vai andar. Seu aparelho degestivo foi danificado. Isto significa que nunca mais vai poder se alimentar sozinho. Isto se ele vier a sobreviver.

- Olhe doutor o senhor não acha que esta decisão de matar o meu cachorro deveria partir de mim. Olhe eu tenho condições de pagar.Basta me entregar o cachorro vivo. O resto fica inteirmanete por minha conta.

Após cinco meses.

Banzé reapareceu na praça.

Realmente a vida de Banzé havia mudado .

Ele agora via o mundo de outra forma.

Como havia previsto o veterinário, Banzé não andava mais e se alimentava com ajuda de sua amiga, que pacientemente alimentava-o atraves de um canundinho. Somente comida líquida.

Iraci ousou e abusou de sua criatividade. E graças a estas ideias, Banzé conseguiu adaptar-se bem a sua nova vida.

Iraci construiu um carrinho, tipo rolemã. E sua larteral era todo envolto por tábuas para segurar Banzé.

Sobre este carrinho resolveu seus problemas quanto ao caminhar.

E foi nestes carrinho que Banzé começo a frequentar novamente a praça.

Iraci agora trabalhava perto de casa.

Pela manhã aliementav e fazia higiene de Banzé.

No seu horário de almoço, corria para casa. Acontecia o almoço de ambos.

E no seu último expediente, voltava a repetir as mesmas ações do amanhecer.

No finais de semana aconteciam os passeios matinais.

Iraci adorava alegar Banzé.

E quando levava-o para o passei o na praça, sentia que ele ficava muito feliz.

Iraci corria de uma ponta a outra da praça, puxando o carrinho por uma pequena corda.

Tinha até a tradicional soltura na rampa.

Ela soltava o carrinho numa rampa por onde ele descia a uma velocidade média, o que permitia que ela tivesse tempo de o esperar no final . Esta breincadeira er a que mais Banzé gostava., Ele parecia que não tinha pernas, mas asas agora.

Os dois acabavam deitados no gramado.

Dez anos se passaram.

Banzé sentia que não era mais o mesmo. Iraci sentia o mesmo.Os passeios na praça estavam ficando raros. Na verdade eles não aconteciam mais, já fazia algum tempo.

Banzé sabia mais que ninguém ,que seus dias na terra agora estavam chegando ao fim.

Iraci estava saindo para o trabalho.

Sentiu no olhar de Banzé uma estranha frieza.

Quando retornou para o trabalho depois do almoço, alem da frieza, agora via no olhar de Banzé um triste adeus.

Percebendo a tristeza sem fim no olhar do amiguinho, ela pensou que não o veria mais vivo quando retornasse para casa no final da tarde.

Ao chegar em casa.

O dia havia passado e havia levado com ele o seu querido amigo.

No dia seguinte o enterrou debaixo de uma frondosa árvore onde agora os pássaros cantam para os novos dias, de novos tempos.

Fim

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